O estado da televisão generalista e a sua previsível morte
Fala-se muito da televisão portuguesa devido “às grandes transferências” e principalmente ao retorno da Cristina Ferreira à TVI. Mas sejamos francos, é de televisão generalista que estamos a falar e essa já não é “grande espingarda” há muito tempo.
O que é hoje em dia a televisão generalista?
Programas da manhã deprimentes que popularizam “pérolas” da música nacional como a Maria Leal. Programas da tarde que dedicam a maior parte do seu tempo à exploração de sofrimento alheio. Telejornais estupidamente longos, tão longos que mais parece não existirem canais que dedicam todo o seu tempo precisamente a notícias. Um “bombardeamento” inacreditável de telenovelas que a única coisa positiva que têm é o facto de garantirem emprego a muitos actores portugueses que mereciam melhor.
Háaa já me estava a esquecer, o abominável “ligue para o 760...″.
Existem coisas boas na televisão generalista, mas quando são realmente boas acabam relegadas para segundo plano (RTP 2) com orçamentos cada vez mais reduzidos.
Repete-se por aí muitas vezes a “corrida pelas audiências” que no fundo é uma corrida protagonizada por dois participantes. De vez em quando há um terceiro que se intromete mas isso acontece tão poucas vezes que a sua participação é quase irrelevante. SIC e TVI lutam entre si, a que perde fica em segundo lugar, a que ganha fica em primeiro e ambas partilham o pódio. Mesmo quando a terceira se intromete não há problema, também há espaço no pódio para ela.
De um lado a SIC reclama as maiores audiências, do outro a TVI faz exactamente o mesmo mas todos sabemos que melhorias substanciais no conteúdo de ambas é coisa rara.
A SIC fez um esforço, por exemplo a estação mudou o paradigma dos participantes em “reality shows” revelando na primeira temporada do “Casados à Primeira Vista” que pessoas normais ainda são interessantes, carismáticas e capazes de proporcionar bons números nas audiências. Para a SIC isto foi o principio da recuperação de audiências que veio consolidar-se com a entrada de Cristina Ferreira na estação.
Agora que a Cristina regressou à TVI “para a salvar”, a SIC parece continuar determinada a seguir o plano original. Honestamente, não é algo que me agrade muito, não sou grande fã da programação da SIC que não é assim tão diferente da TVI, mas sinto-me forçado a reconhecer que pelo menos o caminho traçado pela SIC parece respeitar muito mais a inteligência do telespectador. Já é tarde para se “ver uma luz ao fundo do túnel” (na minha opinião claro) mas ainda há uma esperança de que pelo menos a última caminhada da SIC seja tão memorável como seu nascimento.
Sobre a TVI creio que de nada vale pronunciar-me. Estamos a falar de um canal de televisão cuja estratégia mais recente passa por dar um enorme protagonismo à sua cara mais popular, rotulá-la de “salvadora” e esperar que a sua “revolução” na programação seja capaz de fazer milagres. Não tenho nada contra a estratégia, o meu problema está mais relacionado com a forma disparatada com que tanto a TVI como a própria Cristina Ferreira comunicam essa estratégia.
Nem me façam falar sobre o que raio de mensagem transmite um programa chamado “Dia de Cristina” que dura O DIA INTEIRO, porque de simplicidade e humildade não é de certeza.
Já agora e defendendo um pouco não só a Cristina mas todos aqueles que tomam as decisões importantes no que à programação de entretenimento diz respeito. É difícil efectivar-se mudança quando não há “tomates” para arriscar em algo melhor. Podemos acusar a Cristina de recentemente ter comunicado de uma forma um tanto ou quanto arrogante mas que ela tem mais “tomates” do que alguns (não todos) dos homens e mulheres que geriram o entretenimento na televisão portuguesa ao longo dos anos, lá isso ela tem.
O problema é que a televisão generalista tal como nós a conhecemos está a perecer, cada vez mais a sua credibilidade vai-se desvanecendo, o profissionalismo vai deixando de ser uma característica definidora e a classe de outros tempos está na sua grande maioria extinta. O telespectador moderno está mais consciente; informado; educado; tecnológico e é por isso que serviços como a Netflix, onde ele pode ver o que quiser e bem entender, são cada vez mais populares.
Mas "eles” estavam todos à espera do quê?
Não se pode insultar infinitamente a inteligência de alguém sem que mais cedo ou mais tarde essa pessoa decida “mandar à merda” quem a insulta.
"E o mentiroso sou eu?"